Oiii gente. Tudo bem com vocês? Aproveitando o carnaval para colocar as leituras em dia?
Venho hoje falar sobre um livro
que quase desbancou meu livro preferido ever,
Orgulho e Preconceito da Jane Austen. Aliás, ambos os livros guardam diversas
similaridades entre si, sendo provável que Gaskell tenha se inspirado em
Austen. Foi difícil, até mesmo, escolher as quotes, porque eram tantas e algumas
das minhas preferidas ficaram de fora para não acabarem virando spoilers. Portanto,
já aviso que essa resenha ficou grandinha, mas esse livro merece e vale muito a
pena ler.
Primeiro vamos nos situar
historicamente. Elizabeth Gaskell, quando escreveu Norte e Sul, morava em um
ambiente predominantemente industrial no norte da Inglaterra, o que contribuiu
com sua escrita neste livro, no qual faz um retrato detalhado da sociedade
inglesa durante o auge da primeira revolução industrial e das condições do
proletariado na época, com suas fábricas, sindicatos, greves, expondo o romance
dos protagonistas em meio aos embates entre os patrões e operários, nessa época
tão conturbada e importante da história.
Logo no início da história somos apresentados à protagonista Margaret Hale, acostumada com a sociedade rural e pacata em que vive no Sul, até que uma condição de seu pai os obrigar a se mudar para Milton, cidade cinza, fumacenta e barulhenta do Norte, totalmente o oposto da ensolarada e cheia de vida Helstone.
O livro retrata, inicialmente, as
dificuldades trazidas por esta grande mudança na vida da protagonista, que se
vê obrigada a se adaptar a um novo ambiente, com novos costumes muito contrastantes
com os que estava habituada.
Sim. Entrei aqui muito triste, e bastante inclinada a pensar que meu próprio sofrimento era o único no mundo. E agora ouço como você tem tido que suportar por anos, e isso me tornou mais forte.
E nessa confusão em que se
encontra, Margaret conhece Mr. Thornton, industrial, dono de uma fábrica que
produz tecidos de algodão, com quem desenvolve uma antipatia imediata, considerando-o
rude e completamente indiferente à realidade de seus funcionários. A princípio,
Margaret se mostra bastante preconceituosa, mas é uma protagonista forte,
tentando entender seu papel em uma sociedade em transição com forte
desigualdade social, sendo sempre muito observadora, com aquela mania de tirar
conclusões precipitadas, (quem nunca? Hahah), além de estar sempre apta a expor
sua opinião independentemente de quem poderá desagradar ou se tal conduta não
se mostra adequada. Valoriza altamente questões filosóficas, buscando sempre
entender e ajudar ao próximo, em especial os que se encontram em posição social
abaixo da sua. Sem dúvidas é uma das personagens com maior crescimento ao longo da história, deixando de
lado seus preconceitos e aquelas primeiras impressões equivocadas que todos
temos às vezes.
Não sei... suponho que seja porque vejo duas classes dependentes uma da outra, em toda forma possível, ainda assim cada uma evidentemente considerando os interesses da outra como opostos aos seus próprios. Nunca morei em um lugar antes onde houvesse dois conjuntos de pessoas sempre criticando um ao outro.
Por outro lado, Mr. Thornton é
visto como o patrão justo, um tanto bruto, que alcançou sua alta posição com
muito trabalho, e que pauta sua conduta na honra e nos preceitos comerciais,
desprezando completamente os ideais defendidos por Margaret. Mr. Thornton
consegue ser muito encantador, do tipo que é impossível não se apaixonar
perdidamente, e tem uma evolução muito grande ao longo da história. Se no
começo você o odeia da mesma maneira que Margaret, até o final do livro ele se
torna cada vez mais incrível, deixando transparecer seus sentimentos, enquanto
desenvolve amizades antes improváveis e um romance mais do que esperado.
O próprio Mr. Thornton estava habituado a comandar, mas ela parecia exercer, de imediato, algum tipo de domínio sobre ele. Estava começando a ficar impaciente com a perda de seu tempo em um dia comercial, um momento antes de a jovem aparecer, mas agora sentava-se calmamente a pedido dela.
A história do casal se desenvolve
da implicância sem motivo para um sentimento que os une e os fortalece, com
crescimento de ambos os personagens, em uma relação de compreensão, respeito e
empatia, sem que para isso precisem deixar de lado suas convicções pessoais. Adoro
a maneira como o amor vai surgindo, aos poucos, antes que possam se dar conta,
e como mudam as opiniões, sobretudo Margaret, e passam a entender melhor e a
aceitar um ao outro de maneira significativa e natural.
‘Certamente’, disse ela, sorrindo abertamente para ele. A expressão do rosto dele era, de alguma forma, ansiosa e oprimida, mas se esvaneceu enquanto ele encontrou seu doce semblante, do qual todos os efeitos do vento norte da discussão já tinham inteiramente desaparecido. Mas ela não lhe estendeu a mão e, novamente, ele sentiu a omissão, e a atribuiu ao orgulho.
Mas nem só do romance do casal
sobrevive a história, e os demais personagens foram muito bem desenvolvidos
durante toda a história. Esse livro vale muito a pena ser lido, pois trata de
diversos assuntos que mesmo descritos no século XIX continuam sendo atemporais,
como desigualdades sociais e a constante luta de classes, morte, amizade, com inúmeros contrastes
sociais, de personalidades e de opiniões.
‘Não’, disse ele, ‘eu não planejo. Apenas prefiro ansiar pela chance de morrer em meu posto antes de ceder. Isto é o que o pessoal chama de bom e honrável em um soldado, e por que não em um pobre tecelão?'
A escrita é simples, comparada a de outros autores da época, e de fácil
entendimento, muito fluída, tornando a leitura muito agradável. O livro tem um
toque mais sombrio inerente ao período retratado e aos acontecimentos trágicos
que permeiam a história. A contextualização história é ótima e um dos pontos altos do livro. É repleto de reviravoltas e mal-entendidos que
culminam em um final primoroso, no qual é impossível não se apaixonar.
Outro aspecto interessante do
livro é a alternância de pontos de vista em um mesmo capítulo, no mesmo momento,
quase sem aviso. Você começa lendo os pensamentos dela e de repente aparecem os
dele, intercalados, no emaranhado de diálogos e sentimentos. Isso possibilita
um maior envolvimento com a história e melhor compreensão de todos os
personagens e não apenas de um. E Gaskell conseguiu fazer isso com maestria,
sem ficar aquela salada sem sentido algum e confusa.
‘Mãe’, disse ele, parando e corajosamente proferindo a verdade: ‘eu queria que a senhora gostasse de Miss Hale.’‘Por quê?’, perguntou ela, sobressaltada por seus modos ávidos, ainda que ternos. ‘Você não está pensando em casar-se com ela – uma moça sem um penny?’‘Ela nunca me aceitaria, disse ele, comum curto riso.
Outra coisa que gostei muito são
as citações ao início de cada capítulo, são frases e poemas relacionados de
alguma maneira com o capítulo, adoro esses pequenos detalhes.
Preciso comentar também o
trabalho primoroso que a Editora Pedrazul fez com essa edição, o acabamento é
impecável, a diagramação é muito bem-feita, as folhas são amarelas e a capa é
maravilhosa.
Uma pequena curiosidade com
relação ao nome. Originalmente o livro levava o nome da protagonista, Margaret
Hale, mas por sugestão do escritor Charles Dickens (na
época editor) foi mudado para Norte e Sul por contextualizar melhor com
a história. Concordo com isso, além de ser um título mais atrativo. Mas a
Editora Pedrazul trouxe o título original na capa, e o outro na contracapa, o
que achei sensacional. Um livro, dois nomes, duas capas lindas. Não podia ser
mais perfeito. (Esta história foi mais detalhada no início do livro para quem
tiver interesse pode ver no livro ou pesquisar na internet)
Nota: esse livro merece mais que
cinco estrelas, merece um trem lotado de estrelas com a cara do Mr. Thornton
hahah
Extra: Para quem se interessar, a
BBC produziu uma minissérie em 4 episódios, a qual, diga-se de passagem, é
maravilhosa. Sou suspeita para falar, pois fui imediata e irrevogavelmente capturada
pelo olhar de Richard Armitage, no papel de Mr. Thornton. Em linhas gerais, a
série captou muito bem a essência do livro e o caráter dos personagens, a
escolha e atuação dos atores foi condizente com o que se imagina durante a
leitura. E também nunca mais consegui olhar para estações de trem como antes rs.
A série possui algumas diferenças, mas as modificações deixaram a história ainda
melhor (principalmente a cena da estação no final ♥). Recomento a quem
puder assistir.
Nota: a mesma do livro hahah
Nanda
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