[Resenha] A Menina Submersa: Memórias - Caitlín R. Kiernan

Olá galera, tudo bem?
Este livro é o que é, o que significa que ele pode não ser o livro que você espera que ele seja.
Vou começar falando o que muita gente me disse quando estava lendo esse livro e relatando minha dificuldade: não existem meios termos, ou você vai amar ou vai odiar. E é exatamente isso.
As coisas que aconteceram a você te fazem ser quem você é, para o bem ou para o mal.

Quando terminei, além do sentimento libertador de missão cumprida – afinal, o livro estava na minha meta do ano passado e só consegui iniciar a leitura nesse ano e mesmo assim a leitura se arrastou e se arrastou infinitamente – eu amei demais, embora entenda porque muita gente odeie. Há tempos um livro não exigia tanto de mim. Foi difícil e embora quisesse ler e terminar logo nem sempre conseguia, como se a história tivesse seu próprio tempo.
O que não significa dizer que cada palavra será factual. Apenas que cada palavra será verdadeira. Ou tão verdadeira quanto eu consiga.
Em “A Menina Submersa” acompanhamos India Morgan Phelpes, mais conhecida como Imp, em sua resolução de escrever uma história de fantasmas. Há lobos, quadros, rios e sereias, muita paixão e um suspense de perder o juízo, afinal nem mesmo Imp tem certeza sobre os fatos que são verdadeiros. E tudo isso por conta de Eva Canning, que confunde cada vez mais seus pensamentos e vira sua vida de cabeça para baixo, pois Eva surge sempre repentinamente em sua vida, de várias maneiras distintas, mas vai embora com a mesma facilidade.
O desconhecido é apavorante, mas a certeza me amaldiçoa.
Um fato importante é que Imp é esquizofrênica, assim como sua mãe e sua avó eram, e ambas cometeram suicídio. Assim, ela carrega, mesmo que sem querer, esse fardo e essa dúvida, afinal, ela pode ser a próxima e seguir o mesmo destino, então fatos verdadeiros se confundem com fatos criados em sua mente repleta de obsessões e transtornos.
Mas a parte triste das janelas é que a maioria delas abre para os dois lados. Elas permitem que você olhe para fora, mas também deixam que alguma outra coisa que acontece olhe para dentro.
Durante a leitura desenvolvi uma espécie de relação de amor e ódio com a história. Em alguns momentos achava esse livro genial e um dos melhores do mundo, mas em outros a história me deixava exausta. Calma, não abandone esta resenha e esse livro ainda.
Fantasmas são essas lembranças fortes demais para serem esquecidas, ecoando ao longo dos anos e se recusando a serem apagadas pelo tempo.
De fato, a narrativa é um pouco confusa. Imp não é uma narradora fácil de se acompanhar e a história é toda contada sob o seu ponto de vista. Na verdade, o livro é constituído de uma história dentro de outra história, digamos assim. Ao mesmo tempo em que narra, Imp está datilografando sua “história de fantasmas”, enquanto passa por um momento muito conturbado de sua vida. Ao mesmo tempo em que lida com seus problemas psicológicos e os “fantasmas” do passado, tenta unir os fragmentos de uma memória bastante comprometida, o que torna a história muito incerta e bem pouco coerente na maior parte do tempo.
“Nada é sempre objetivo”, Imp datilografou, “embora a gente perca grande parte da verdade fingindo que é.”
A história tem um quê de fantasia e realismo misturados de uma maneira, por vezes, lúdica, o que advém da própria personalidade da protagonista. E que protagonista incrível. Imp é uma mulher forte que está tentando tomar o controle de sua vida, a qual parece já estar perdida para sempre, conseguindo ser divertida e muito arrebatadora em diversos momentos da história.
Eu também trabalho numa loja de material de pintura e sou paga para isso. Mesmo assim, não me vejo como uma funcionária nem como caixa. A questão é: eu me vejo como pintora porque a pintura é o que eu amo fazer, aquilo por que eu sou apaixonada. Por isso, sou uma pintora.
Com certeza foi um livro difícil de ser lido, mas definitivamente isso não deve te impedir de lê-lo. O interessante é que até a metade do livro a leitura foi se arrastando de um jeito que não sabia mais se gostaria e de repente estava tão envolvida com o enredo que não parei mais. A história é uma das melhores e mais bem desenvolvidas que já li e a escrita de Caitilín é fascinante e muito envolvente. É impossível não se apaixonar e, até mesmo, se identificar, pois muitas vezes enfrentamos uma luta constante e um eterno conflito entre o que vive em nossa cabeça e em nosso coração e muitas vezes perdemos o controle e isso é muito palpável durante toda a história.
Gente morta, ideias morta e supostamente momentos motos nunca estão mortos de verdade e eles moldam cada momento de nossas vidas. Nós os ignoramos e isso os torna poderosos.
Se depois de ler tudo isso você continua em dúvida sobre esse livro tenho certeza que a beleza desta edição especial lançada pela Darkside Books resolverá o problema. É simplesmente impossível não querer ter esse livro na estante. Confesso que a primeira coisa que me fez comprá-lo foi justamente isso. O livro é cheio de detalhes em todas as partes e é capa-dura, lembrando mesmo um diário, além de que a lateral rosa é um charme à parte.
Sem sombra de dúvidas esse livro conta muito mais do que uma literal história de fantasmas, mas chega a ser tão aterrorizante quanto, talvez até mais porque nos leva a um mergulho nas profundezas da atormentada e cativante mente de Imp e não existe nada mais aterrorizante do que isso. Não é uma mera história de terror, mas um thriller psicológico e um quebra-cabeças que te deixará louco para desvendá-lo o mais rápido possível.

Nota: 5 estrelas
Nanda

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